Portugal: do autoritarismo à democracia
"Este tema não necessita de apresentações. Falo de um simples país, o mais ocidental de todos os países europeus. Por sinal, falo de um dos mais, provavelmente o mais, importante país do passado, sendo naquele tempo uma mera desilusão.
Viviam-se tempos difíceis e a solução encontrada foi a instauração de uma ditadura, encabeçada por António de Oliveira Salazar.
A população vivia dificuldades. Aliás, a doutrina de Salazar, não era simplesmente mágica e a sua política de “Deus, Pátria e Família” não renovava os antigos ideais. Naqueles tempos de desconfiança nasceram novos ideais que, secretamente, passavam a mensagem durante a noite, que tudo velava. Comunistas lhes chamavam, tentavam repudiá-los e diminuir-lhes o poder, afinal, tudo era no estado e nada contra o Estado.
Naqueles tempos de desconfiança, nasceu o patriotismo, o orgulho que ofuscava a sombra, emanado por grandes obras públicas. A ponte Salazar que quebrava a vista de Lisboa e, em Almada o Cristo-Rei que cantava ao sol.
Pois bem, afinal não eram só tempos de desconfiança. Eram também tempos de crescimento e desenvolvimento que nos recolocavam na história do mundo. Desta vez, não tinha nada em comum com a criação de um nobre e poderoso reino na Ásia, ou na descoberta de ouro, era exactamente o contrário. Necessitavamos de mudança, eramos pressionados por todo o mundo para descolonizar África e até mesmo a Ásia. Fizemos precisamente o contrário, “Não temos colónias, temos províncias ultramarinas”. O povo de lá era igual ao povo de cá e competia-nos civilizá-los. Então, se Portugal não saía de lá, seriam eles que nos arrancariam, à força. Formaram-se guerreiros e estalou outra guerra que nos voltaria a fustigar, para juntar ao longo reportório de guerras infrutíferas em que participamos.
Humberto Delgado, em tempos general, senhor e grande ajudante do regime, acabou com a sua figura quando nas primeiras eleições livres se candidatou pelo povo. O seu problema foi que admitir que “Obviamente demitiu-o”, referindo-se a Salazar.
Teve de se exilar, e no estrangeiro continuou a organizar revoluções e golpes como aquele célebre ao paquete Lusitânia, mas que não resultou em nada palpável. Quando finalmente partia para a Argélia, para voltar a Portugal, e começar uma nova revolução, morreu cobardemente assassinado, perto de Badajoz, com um tiro à queima-roupa, uma mensagem enviada pela PIDE-DGS.
Um grande golpe estalou em Coimbra. Os estudantes manifestaram-se contra os exames, a sua própria opressão e isso valeu-lhes um passaporte para a guerra, o primeiro grande erro de Marcelo Caetano, herdeiro das políticas de Salazar.
Pensou-se que com a mudança de ditador mudaria o regime. Praticamente nada mudou. A opressão sufocante manteve-se, a PIDE mudou de nome e o autoritarismo continuou.
A ala liberal nasceu dentro do partido e Sá Carneiro demitiu-se do seu cargo para protestar, silenciosamente.
O descontentamento do povo aumentava e chegamos a 1974, altura em que a nossa derrota na Guiné não parecia longe. Uma revolução encabeçada por grandes homens como Spínola ou Salgueiro Maia, outrora influenciados no ultramar pelos estudantes, aconteceu.
Finalmente nascia luz ao fundo do negro e profundo túnel e entretanto tinha de se batalhar pela democracia ou comunismo. Viveu-se o “Verão Quente” de revoluções e contra-revoluções e foi pelas mãos dos socialistas que nasceu a nova constituição, que suportava o regime democrático
Terminou assim, com uma revolução pacífica, o maior período de ditadura de sempre a nível europeu, na idade moderna.
Portugal estava agora, teoricamente, a viver num regime de igualdade, fraternidade e liberdade, promessas dos tempos da revolução francesa, ou dos regimes de Péricles e consulados de Roma.
Assistimos a diversas mudanças. Abandono das colónias, deixando Angola a debater-se com uma guerra civil até 2005. As nossas colónias na Índia foram invadidas, e marcamos a transferência de Macau para 1999, data em que o governo chinês e o português acordaram a troca pacífica.
Entramos para a CEE, em 1986, deixando de estar sozinhos e passamos a ser verdadeiramente aceites na ONU e encarados com seriedade e paridade perante o mundo.
Com os fundos enviados pela UE, assistimos a PPP (Parcerias Público-Privadas) que apenas nos serviram para endividar. Aumentou igualmente a corrupção, praticada sem limites por toda a classe política, quase sem excepções. Assistimos a Freeports, Faces Ocultas e Casas Pias, que tanto nos envergonham e revelam a negra faceta da desigualdade e da impunidade. O resultado foi a crise, o desemprego e a Troika e tudo o resto que está para vir…
Com tudo o que aqui foi apresentado e muito mais que havia para referir, poderemos dizer que o cravo murchou?"
Artigo de opinião elaborado pelo aluno Miguel Lince Duarte do 9º D, no âmbito da
disciplina de História
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